Aos Incompletos, continuem...
07:42
“ Informamos que esta oportunidade foi adiada em 1 ano!"
ham!? é sério mesmo? é sério que esse negoço invisível roubou uma oportunidade de tirar o pé da lama,
de respirar, viajar, rever pessoas, passear na praça, tomar um café com amigos, o casamento que seria
mês que vem, o final do curso, a comemoração de um aniversário, o primeiro mês do emprego, a rotina,
a vida...
Em quarentena, há coisas demais pra fazer, pelo menos no caso da minha família, parecemos uma
comunidade isolada, talvez como os Amish, mas sem a religião e sem o padrão estético, atividades e
responsabilidades não faltam, quando a internet se torna cansativa, reencontrar fatos e histórias dentro
de nós se torna divertido e doloroso tamém,
Após longas risadas e pontuações sobre algum dado novo, ocorrem aquelas conversas particulares,
que começam às 23:40 e terminam ás 05:30, Após refletir sobre tudo que ouço, concluo que
quando tudo isso acabar, estaremos diante de rachaduras nas mais diversas fundações,
olhei meus velhos, tentei entender as confusões políticas, li matérias, livros bons demais,
a Bíblia, ouvi os meus, e percebi, estamos todos feridos, contaminados, de alguma forma,
enxerguei as rachaduras de outros corações, entendi, quase lamentando, que a geração
problemática, superficial, emotiva, excessiva, incrédula, apática, desconexada, será a maioria
na reconstrução, nós os que precisamos do Médico, seguraremos as cordas, vigiaremos
as entradas, guiaremos carrinhos de mão, nós… os improváveis, alguns, inclusive,
destituídos de propósitos, encontraremos na pós-tempestade, a razão para recomeçar.
É isso mesmo! seremos nós, os rachados, quebrados, incompreendidos, doentes, depressivos,
compulsivos, cheios de toques, dúvidas, solidões, que estaremos na reconstrução,
nós os inimagináveis, quando nossos anciãos se forem,e as sementinhas lindas também,
estaremos aqui lançando e continuando os alicerces, nós… os apartados, os que rodopiam
em torno de suas próprias dores, os que necessitam de uma cruz alheia pra se dar conta de qual é
a nossa, nós, os que abraçamos o relativismo como quem dá um abraço apertado no vento,
nós os que xingamos usando a palavra fundamentalista, quando ansiamos sedentos
por fundamentos sólidos, profundos, largos..
Não somos o ideal, somos a realidade, somos o exército mirrado, indesejado, desacreditado,
mas disposto, para ser resposta no marasmo que virá, nós, os leprosos que já não temos o que perder,
entraremos no arraial e chamaremos os sãos, os guerreiros, nós anunciamos que o Salvador vence!
Aprendi com Ele, que algumas doenças, são para a Glória de Deus, eu entendo melhor tuas
perebas quando já tive uma, eu sei o quanto de ar devo prender pra suportar o odor da escara
infeccionada, sem te fazer se sentir rejeitado, expurgado, eu sei o quanto dói, enquanto
eu vejo as lacerações em você, eu cuido melhor, desinfeto meus ferimentos, me protejo
e te ajudo, tu também faz isso por mim. E mesmo se ainda não tiver cicatrizado,
eu quero te ajudar a reparar os muros.
Não é sobre as minhas feridas, é sobre as nossas, eu as vi antes nas mãos, pés e cabeça dEle. Quando a tua dor adormece a minha, quando eu percebo que mesmo incerto de quem sou, eu sei quem Ele É, e a tua sutura é como plantas que crescem nas fissuras impossíveis de serem fechadas, essas belezuras que chamamos de cerca viva, são o curativo de cortes dolorosos.
Sim, há muitas percas, muitas amputações, muitos riscos de desabamento, muita instabilidade, muitas pesquisas em andamento, fazer parte de um grupo de risco, pode ser o começo de um grande benefício, para que outros possam viver, ele tem me ensinado a morrer, a perceber, que a cura vem com a caminhada, que as respostas não são redondinhas ou escancaradas, que o sacrifício é o castigo que nos traz a paz…
Foi um cara que perdeu tudo o que lhe era mais importante, que viveu em sua própria pele
a dor de uma peste, um cara que foi repreendido por Deus, que recebeu entre os melhores e
piores conselhos, resumindo, um cara com autoridade que disse:
“há esperança para a árvore cortada”, então cabe a nós, os angustiados,
despreparados, imperfeitos, inseguros, a nós, os incompletos, a missão de continuar;
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