forasteiro
Missões
peregrino
Texto
Os pés de um forasteiro
19:09
“Minhas raízes estão no ar/ minha casa é qualquer lugar/ se depender de mim/ eu vou até o fim/ voando sem instrumentos ao sabor do vento...”
E
então, Ele tem nos falado há anos, que nessa terra somos forasteiros,
peregrinos, missionários. Esses dias tenho lembrado muito e muitas vezes, da
menina que nem sabia quem era Jesus, quando se apaixonou por mapas e se
enxergava com uma mochila nas costas andando por aí, dos filmes que falavam
acerca de pessoas que saíam de suas casas para terras desconhecidas para enfim
viver uma missão, para fazer a diferença onde haviam se proposto, lembro de
filmes como “Diários de motocicleta”, “ O jardineiro Fiel”, “Jornada pela
liberdade”, são filmes inspiradores, sobre heróis fictícios ou não, que
ascendiam em mim um desejo enorme e intenso de sair de casa e mudar o mundo, de
lutar por coisas maiores.
Quando conheci Jesus, entendi que Ele mais do
que ninguém, era um herói atípico, afinal de contas, era humano demais, o que
os heróis não costumam ser, ele também era apaixonado por mapas, mochila nas
costas, ou não, línguas e povos, o mais importante forasteiro e o missionário
mais inspirador. Em Jesus percebi que ele nunca saiu de casa para cumprir um
ideal dele, ou de uma empresa, mas o plano de seu Pai, que envolve mudar o
mundo, tanto é, que Jesus dividiu a história, que até quem não o conhece se
sente constrangido com seu amor, seu sacrifício, sua vida e sua história. E que
plano é esse que tanto falamos? Na verdade bem verdadeira, não sei qual é o
seu, estou descobrindo qual é o meu ainda, o que já sei é que o plano dEle pra
minha vida, envolve missões em tempo integral e ser forasteira.
Há
alguns dias tenho pensado em algumas palavras que fala acerca dos peregrinos, o
nosso tempo aqui é tão rápido, e provavelmente por isso Pedro falou para nos
abstermos daquilo que luta contra nossa alma. Os forasteiros são como
missionários, ou os missionários como forasteiros, ou missionários são
forasteiros e forasteiros são missionários, eles sabem que vão sair de “casa” a
qualquer dia, nem sempre sabem para onde vão, nem quanto tempo estarão longe,
não sabem onde pisarão, as famílias que conhecerão, as pessoas a quem marcará e
as que os marcarão, as histórias que os farão chorar e rir em demasia, as
situações e circunstâncias que vão doer tanto que vai ser inevitável não se
sentirem inúteis por algumas horas, não sabem a generosidade que os aguarda nas
casas mais simples, o quanto a comida mais estranha que lhes oferecerão é o
prato preferido de quem mal tem o que comer, não sabem os sorrisos e as
lágrimas que lhes serão dedicadas na chegada e partida.
Não
sabem quando terão que sentar nas calçadas para ouvir histórias cabulosas e
permanecer sendo fortes, não sabem quantas crianças os admirarão e serão
inspiradas, não sabem o quanto seus dons ou coisas que faz pra distrair,
agregará pessoas às suas vidas, não sabem o quanto serão surpreendidos pela
graça, amor e simplicidade, não sabem onde entrarão, onde comerão, onde vão
morar por uma semana, meses ou anos, apenas saem de casa, cheios de sonhos,
expectativas, medo, apreensão, sozinhos ou em bando.
O
fato é, forasteiros ainda fazem planos, mesmo sabendo que eles com certeza
serão mudados, vão a um lugar e acabam em outro, eles não tem um endereço fixo
aqui, mas também não são desabrigados. Não há um só dia que o forasteiro não
pense “ vou ficar aqui por pouco tempo”, alguns forasteiros são intensos,
outros são detalhistas, alguns são suaves, outros profundos, alguns se adaptam
de minuto a minuto, outros nunca se adaptam, alguns encaram qualquer coisa,
outros temem tudo, alguns enxergam Deus em tudo e todos, outros demoram pra
perceber a beleza, amor e graça de Jesus.
Forasteiros
não conhecem o dia de amanhã, não são perfeitos, não tem super poderes, não são
blindados, também não são abandonados, não são tão fortes, não são tão
estranhos, não estão totalmente informados, mas também não são leigos, andam
com mochilas e sandálias velhas, carregam experiências, histórias, emoções e
lições que só se vivem uma vez na vida.
Como
forasteira, não consigo lembrar as inúmeras vezes que chorei em meio a
sorrisos, que gargalhei quando a coisa era séria, que aprendi a coisa mais
simples em meio as pregações mais complexas, que falei sobre o amor em meio a
dor, que caminhei sozinha por lugares extremamente habitados, que andei alegre
enquanto precisava ser forte e que fui fraca pra depender totalmente de Deus em
meio ao caos espiritual, nenhuma miséria é maior do que a espiritual, nenhuma
desgraça me choca mais do que a inutilidade, nada me enobrece mais do que a fé.
Não sei descrever, não conseguiria, os lugares mais diversos e paradoxais onde
os meus pés já pisaram, não sei quantas vezes voltei para minhas casas
temporais, pensei, orei e chorei horrores, de gratidão ou de não saber o que
fazer.
Como
peregrina, lembro de muitas histórias de amigos peregrinos, muitos testemunhos
de pessoas que não voltaram pra casa com pés tão formosos assim, mas que ao
certo voltaram mais parecidos com Jesus, mais fortes, cheios de entendimento de
que a força antes de mais nada é parar e reconhecer que não é tão forte assim,
que ser corajoso não é não ter medo, que obediente não é quem sai de pronto sem
pensar, mas quem apesar de seus questionamentos, vai. Que missões não é tudo
perfeito, bonito e emocionante como vemos nas fotos, mas é recompensador,
profundo e inexplicável. Chamado não se explica, se vive.
Aos
forasteiros, peregrinos, missionários, uma
dica apenas, posso dar, esvazie a bagagem da última viagem, entenda e ame a
estrada, porque agora, ela é o seu lar, aos que estão na estrada, cansados
ou não, um conselho bem árcade, CARPE DIEM, a gente se encontra, numa foto, num
vídeo, numa publicação, num testemunho, numa pregação, numa risada, numa
notícia, enfim, a gente se encontra e se reconhece...
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