"Tanta desistência e tanto recomeço"

   Aqui estou, tirando as teias de aranha, das mãos, do blog, da mente... os dias vão passando e quando a gente se dá conta, já se p...


   Aqui estou, tirando as teias de aranha, das mãos, do blog, da mente... os dias vão passando e quando a gente se dá conta, já se passaram 6 meses, 1 ano, 5, 10 anos, que estivemos num lugar pela última vez, que falamos com aquele amigo, que compramos uma roupa, que cortamos o cabelo, que fomos àquela cidade, que tínhamos muito tempo livre, que sentimos aquele frio na barriga antes de viajar, que tivemos uma idéia muito legal, que paramos de frente ao espelho pra se encarar, que devoramos um livro numa tarde, que nos reuníamos em família para ver filmes o final de semana inteiro, que nos apaixonamos de suspirar, que éramos adolescentes, que fomos impactados por um gesto, que descobrimos algo totalmente novo, que fizemos isso ou aquilo...
   Fazer faxina não é algo que a maior parte das pessoas gostam, faxina mesmo, do tipo de tirar todos os móveis do lugar, limpar o interior dos menores objetos, nesse processo, é preciso força e disposição para acabar a resistência das teias, que parecem sensíveis, tão organizadas e tão incômodas... é assim na vida, os problemas chegam e os jogamos no canto, as frustrações vêm e deixamos que a confusão mental se acumule nas nossas emoções, e o que fazer com esse turbilhão de sentimentos estranhos, parece que a dúvida se reproduz em nós, Jesus! e esse medo? que parece que toma o espaço inteiro... Ah! limpar a casa da maneira correta, dá um trabalho...
  Beleza! vamos colocar aquela velha música, velha mesmo, que ouvi tantas vezes porque gostava da melodia, mas que só agora entendo o sentido, ela me inspira a continuar... bora, lá! "Caramba! como eu gostava dessa blusa!, e agora ela não me serve mais", "esse caderno tá cheirando a mofo", "kkkk, e esse bilhete? foi durante a aula de física", "por quê eu só lembrei agora, que pra onde quer que eu fosse, só queria usar a mesma roupa?" "e essa foto? por quê não parece que sou eu?" "qual terá sido o fim dessa bicicleta rosa, que tá nessa foto?", "essa folha aqui, foi da árvore onde eu sentava pra escrever meu diário..." "essa caixa foi do primeiro perfume que ganhei..."
  Tenho mania de guardar, acumular, pra falar a verdade, tenho aprendido a me desprender, a deixar ir ou fazer ir, não é uma tarefa fácil, afinal "são 10 anos que tenho esse sapato", "embora esse bilhete não diga nada de importante, foi fulano que escreveu", "acho bonita essa embalagem", "talvez eu emagreça e posso usar de novo esse vestido", é algo tão meu, que renunciar, parece blasfêmia, "peraí! é minha história...", é como se os anos dessem uma importância há algo que normalmente não é importante, perdoar é a tarefa árdua que faz de mim alguém mais saudável, é saber que o batom chegou na data de vencimento, cheira a velho e eu tenho que jogar fora sem nunca ter usado, fazer faxina é tão nostálgico e revelador.
    Quem disse que pra colocar as coisas no lugar, não vamos nos encontrar com nossa imensa bagunça interna? e diga-se de passagem, chegou sorrateira, como aquele monte de roupa que jogamos no cabide, se instalou dentro de mim como todos os livros que guardei no sapateiro, "há tanta coisa fora do lugar..",  parar e repensar demanda tanto esforço, quanto arrumar o guarda-roupas, são tantas peças para analisar, provar, descartar, dobrar, guardar, doar, são tantos planos que mudaram, que desapareceram, que perdi, são tantos meses que não escrevo, são tantas situações que não sei como proceder, me pergunto: "como pude?", assim como esse brinco estranho que usei diversas vezes...
   "Não consigo acreditar que encontrei esse anel! achei  que o tivesse perdido...", não consigo administrar que esse pecado ainda tá aqui, que esse pensamento egoísta não tenha ido embora, é bem provável que parei de lutar contra, no meio do caminho, bem como parei de procurar esse anel nos lugares mais óbvios. "Ah! não!!! eu ia começar a usar esse hidratante essa semana, e já passou da validade há meses..", procrastinação, quem nunca?!ela é uma das maiores responsáveis pela minha bagunça, ela sempre deixa a porta aberta, quando deveria fechar, quando menos espero a apatia está dormindo na minha cama, segundo a poetisa roqueira: "não deixe nada pra depois, não deixe o tempo passar...", quanto de vida perdi... Tem uma troca de palavras que curto: " sofro de procafestinação", só faço qualquer coisa depois de um xícara de café, por falar nisso, "quanta louça suja! vou ter que jogar essa xícara fora...", isso é nojento, eu sei e também acho, a negligência, ela sempre adia e omite, enquanto houverem outras alternativas.
       A penteadeira parece uma escrivaninha, ou a escrivaninha parece uma penteadeira, confesso minha alegria por esse perfume, tão básico, durar tanto, ainda bem que a essência não é volátil como o odor, é ela que mantém o equilíbrio e que, como a rosa dos ventos, que carrego nos pescoço, me ajuda a me encontrar, quando tudo parece perdido e desencontrado. Sempre haverá uma parte alta ou bem baixa, onde ficarão guardadas as caixas mais bonitas, cheias de fofurices, nas minhas estão meus cartões, cartas, chaveiros e enfeites diversos, eu sei que essa caixa existe e poucas vezes eu mexo nela, embora lembre da maior parte das coisas que estão ali, vou só limpar por fora, talvez eu precise revisá-la, mas por hora vou mantê-la ali, como minha ponte às promessas e relacionamentos com pessoas, são ambas que mais me ensinam, me bagunçam, me confundem, me elevam, no final, são elas que empilham as revistas velhas em caixas coloridas, dentro de mim, lembranças, lições, conhecimento e oportunidades.
    A gaveta que emperrou, está com minhas meias, me pergunto por quê duram tanto, me lembram o tempo, sempre revestindo meus pés para as longas caminhadas, as estradas diversas e o evangelho. Vou colocar nessa gaveta ao lado, as canetas, algumas não funcionam mais, mas um dia, me ajudaram a documentar instantes, e foram indiscutivelmente, eficazes em fazer conexões, elas foram à lugares remotos e promoveram encontros entre minhas percepções, desejos e memórias, que nenhum wifi, teria a mesma destreza... 
     São tantas reticências no texto e nas reflexões diárias, tantos achismos e tantas verdades, tanta semelhança entre minha vida e meu ambiente, tanta compreensão e tanta certeza de que não sei quase nada, tanta irreverência e tanta vergonha, tanta timidez e tanta loucura, tanta humilhação e tanta superação, tanta desistência e tanto recomeço, tanta bagagem e tão poucos objetos na mala, tantas histórias e tão poucas palavras...
   Faxinar a vida, no fim das contas, é organizar a alma, um método infalível é usar a estratégia do Reino, quanto menos, mais, quanto mais, menos, mais espaço, menos bagunça, Drumond escreveu sobre isso, faxina na alma, lembro disso... Apesar do trabalho que dá, deixar tudo arrumado, é recompensador, olhar e ver tudo limpo e no lugar, ter espaço pra colocar algo diferente e novo, poder de repente dá uma cara nova a um objeto velho, encontrar na mesmice a novidade, fazer com que o novo venha, usando a velha estrutura...

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Jesus

Jesus sempre será O exemplo, a linha de pensamento dEle sempre foi linear e constante, Ele segue fielmente um princípio que a nossa missão (JOCUM ) usa como um dos valores, fazer primeiro para depois ensinar, hoje eu estava vendo isso, Jesus nunca ensinou algo que não tivesse autoridade para tal, é sempre preciso viver uma etapa por vez, não pular, como ser uma criança e viver como adulta, ou viver pulando fases consideradas chatas, cansativas, ou repetitivas como o protagonista do filme click fez, nós precisamos assim como Jesus, vivermos uma etapa de cada vez, aprendermos e depois ensinarmos, olhar para Jesus e crer, seguir e querer ser como Ele, constantes, lineares, objetivos, simples.

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