Criada para o mundo
14:19
Eu fui criada em meio à histórias, remotas, fabulosas, tristes, marcadas, hilárias, reais, adaptadas, histórias cheias de rostos que nunca veria ou quando visse, desmontaria a minha imaginação, sempre fértil... eu não sabia, nenhuma das muitas vozes ao meu redor sabia, mas estava sendo formado em mim, um desejo de conhecer gente... conhecer a estrada, o mundo...
Do alpendre da minha casa, eu via a longa estrada, eu lembro do receio e da curiosidade quando os ciganos passavam, anos depois eu entendi, que a vida nômade me perseguiria, rs, eu era incansável em perguntar sobre tudo que era diferente da minha rotina, eu lamentei muitas vezes que a expectativa dos meus porquês não eram atingidas, hoje eu sei que eles nunca seriam, eu aprenderia muitos anos depois sobre fazer as perguntas certas para obter as respostas certas.
Viajar sempre foi uma espécie de satisfação garantida pra mim, minha mãe dizia que eu tinha "um fogo pra caminhar", rs, sinto falta do frio na barriga antes de uma viagem, da emoção de se arrumar pra ir à cidade, fazer a feira, ou sair de férias, lembro de estar doente uma vez, e precisaram me levar da fazenda pra cidade, quando eu cheguei na cidade que eu vi as ruas iluminadas pelos postes, o asfalto, as casas ... muitas e diversas, eu estava sã, a viagem tinha levado minha febre ... eu era uma criança, sonhadora, curiosa, idealista, minha mãe percebeu naquela época o que hoje ela odeia...
No geral, enquanto ando pelo mundo, ouço histórias, conheço coisas, descubro a vida, as idéias, enquanto me familiarizo com o corre corre, eu lembro da minha mãe, tento não pensar, mas a culpa é dela, foi ela que me criou pro mundo, todos os conselhos, advertências, perguntas, respostas, silêncio, confissões, histórias loucas e bizarras, revelações, entrega, a minha precoce saída de casa, a leitura como minha companhia fiel e constante, que sempre me aguçou a perceber que tem mais, sempre tem mais, as inúmeras casas onde morei, a saudade dentro de mim, do lar onde fui formada e a empolgação pelo novo sempre andaram tão próximas, o desejo de ter minhas próprias histórias, minha bagagem, agora os olhos atentos e surpresos são os dela, mesmo que não entenda, muito menos concorde, a gente comunga a liberdade correndo solta no sangue, ela me deu o gosto pelo outro como um legado, e é o sorriso de canto de boca dela que me leva a crer que é a estrada que nos une...
São poucos minutos perto que me fazem ter certeza de que ela cumpriu perfeitamente a missão, eu queria que a preocupação dela não fosse um fator que me leva à comunicar sobre uma viagem apenas no meu retorno, queria que os detalhes pudessem ser apresentados e compreendidos na íntegra, entre as xícaras de café e o biscoito amanteigado, queria dizer pra ela que não sou tão segura quanto ela pensa, nem tão infantil quanto pareço, queria que minha vida, minhas escolhas, fossem motivo de apreço e não de desgosto.
Ah! como eu queria lhe mostrar pra o que fui criada, além das fotos, queria que ela tocasse nas plantas que vi, sentisse o vento no rosto, ouvisse as histórias que ouvi pra ela aumentar o leque de personagens, queria que ela entendesse porque eu choro, e que mais do que ter meu riso pronto, ela pudesse gargalhar comigo, queria devolver a árvore pra ela como resposta de gratidão pelas sementes que ela inseriu em mim, queria que de alguma maneira ela pudesse sentir pra onde a tenho levado, que os minutos juntas são excessivamente importantes, que é a maneira mais pura que encontrei de recarregar meus dias...
Que são minhas próximas viagens que me levam de volta ao jardim, que me recordam do protótipo de mundo que a nossa casa me deu, ali no pomar dela, meu reino, eu estava em contato com a essência daquele que me convidaria: Segue-me! para enxergar o que eu ainda não via...
chega de choro!
Ananindeua-PA, 04 de Setembro de 2018
São poucos minutos perto que me fazem ter certeza de que ela cumpriu perfeitamente a missão, eu queria que a preocupação dela não fosse um fator que me leva à comunicar sobre uma viagem apenas no meu retorno, queria que os detalhes pudessem ser apresentados e compreendidos na íntegra, entre as xícaras de café e o biscoito amanteigado, queria dizer pra ela que não sou tão segura quanto ela pensa, nem tão infantil quanto pareço, queria que minha vida, minhas escolhas, fossem motivo de apreço e não de desgosto.
Ah! como eu queria lhe mostrar pra o que fui criada, além das fotos, queria que ela tocasse nas plantas que vi, sentisse o vento no rosto, ouvisse as histórias que ouvi pra ela aumentar o leque de personagens, queria que ela entendesse porque eu choro, e que mais do que ter meu riso pronto, ela pudesse gargalhar comigo, queria devolver a árvore pra ela como resposta de gratidão pelas sementes que ela inseriu em mim, queria que de alguma maneira ela pudesse sentir pra onde a tenho levado, que os minutos juntas são excessivamente importantes, que é a maneira mais pura que encontrei de recarregar meus dias...
Que são minhas próximas viagens que me levam de volta ao jardim, que me recordam do protótipo de mundo que a nossa casa me deu, ali no pomar dela, meu reino, eu estava em contato com a essência daquele que me convidaria: Segue-me! para enxergar o que eu ainda não via...
chega de choro!
Ananindeua-PA, 04 de Setembro de 2018
1 comentários
Ticila que Maravilha! Temos mais comum do que imaginavamos. Vc enquanto filha eu enquanto projeto de mãe rs. Lindo texto, lindo desabafo, lindos argumentos, linda declaração. Vamos voltar a escrever né? Essa data está distante rs
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